sábado, 5 de novembro de 2011

Lua de mel em Marrocos.



Entusiasmada, absorvi todos os folhetos ilustrados de guia turísticos, corri buscar o Atlas, para localizar, o local tão sonhado, o Reino de Marrocos.
Eu conheceria o mar Mediterrâneo, a cidade de Rabat, Marrakech, acessei a Internet, quis ver todas as informações sobre o roteiro turístico, seus costumes, culinária, a língua árabe, de que não sei nada, desejo conhecer tudo, desde a Espanha até o deserto do Saara, ver as Pirâmides, Esfinges, conhecer o Rio Nilo, que emoção indescritível, conhecer um pedacinho da mãe África, voar pelos mares atravessar o globo, não consigo nem dormir, faço e desfaço as malas e meu futuro esposo parece bem tranqüilo, bem, afinal, ganhamos de presente essa viagem do patrão dele, ele vai também a serviço, mas não importa, vai ser aquela lua-de-mel inesquecível, faltam apenas duas semanas e lá vamos nós...
O casamento se concretizou e eu não estava nem preocupada com os detalhes do cabelo ou vestido, festa, nada eu queria era viajar, entrar naquele avião e ganhar os céus e aquele padre não terminava aquele infindável sermão.
Enfim terminou o sermão, fomos para a festa ficamos umas horas para posar para as fotos e despedirmos-nos dos familiares e fugimos literalmente, para o aeroporto.
Já no avião, minhas mãos estavam geladas, não de medo de voar, mas de ansiedade, por chegar logo ao paraíso. O atendimento das aeromoças não era lá eficiente, mas tudo bem, a alimentação foi razoável.
Chegamos ao paraíso, precisamente em Marrakech, bem, talvez o cansaço da viagem tivesse me abatido, porque eu não estava tão contente, por ver tanta gente me espremendo e homens mal vestidos e mal cheirosos me encarando, e encarando nossas malas e nunca encontrávamos o “hotel” indicado, meu esposo estava sólido, impassível, não se abalava por nada.
O mal cheiro era terrível, o calor insuportável e eu com agasalho, desde o embarque do Brasil.
Pensava comigo, quero um banho quentinho, comer comida de gente, me esparramar numa cama fofa e amar...
E meu excelentíssimo, esposo me informou, que me deixaria na hospedaria e trataria de negócios primeiro, enquanto isso, que eu relaxasse, um pouquinho, porque a viagem foi muito cansativa.
Ai! Que irritação, quanta gente, gritando, meus pés já estavam doendo e estava com fome, mas não comeria aquelas coisas da rua, de jeito nenhum.
Ah! Enfim chegamos na hospedaria.
Oh! Que lixo! Não é possível, houve algum engano, não é esse o endereço. O barbudo não parava de falar e me olhar, até cuspia em cima, de mim.
Fomos levados para cima em um quarto apertado, fedorento, bolorento e escuro, parecia uma masmorra, meu esposo me tranqüilizou:
-Calma! Eu fecho negócio, recebo já o dinheiro e vamos para outro lugar em seguida, relaxe, vai dar tudo certo.
Com lágrimas nos olhos e tampando o nariz, sem dizer uma palavra afirmei com a cabeça, mas meu desejo era mordê-lo, de tanto ódio, por estar passando por aquele suplício.
Meu amado sumiu na multidão, tentei respirar fundo o ar da cidade estranha, tentei avistar alguma coisa, que me fosse agradável aos olhos, pois até agora estava bem decepcionada.
Tomei banho de tina, me perfumei, derramei meu delicioso perfume pelo quartinho e cama.
Passaram-se horas e nada de meu Guilherme voltar.
Pensava:
-Infeliz, vou arrancar-lhes os olhos, por me enfiar nesse buraco nojento, que barulho infernal, esse pessoal não dorme.
O sol me despertou e assustada pulei da cama, cadê o Guilherme?
Enlouqueci, sai do quarto, desorientada de camisola, com o rosto amostra e as mulheres que me viam, nessa situação me esconjuravam, o dono da porcaria, me barrou, falando um monte de sei lá o quê e me segurando pelo braço me obrigou a voltar para a prisão, mais cuspia do que falava, comecei a gritar, presa no quarto, literalmente, pois o balofo me fechou no quarto, com chave por fora.
Mais um grito perdido naquela cidade barulhenta não fazia diferença, chorei, amaldiçoei, me escabelei, esperneei até cansar, com fraqueza de fome e estressada adormeci.
Já à tardinha chegou o príncipe, encantado, lívido, calmo, tranqüilo, voz encantadora, inflexível:
-Vamos, meu amor, se arrume, que vamos a um jantar, de negócios, é claro, mas a comida é boa.
Pensei, vou matá-lo, depois do jantar...
Eu me arrumei, me perfumei, prendi os cabelos longos e negros, me maquilei à moda das mulheres locais, coloquei a droga do véu e fomos, abraçadinhos, enamorados, cruzando olhares e ternuras.
O jantar foi ótimo, me saciei, embora tenha ficado do lado do meu esposo, calada, feito estátua e como uma peça de admiração, aqueles “babacas” não tiravam os olhos esbugalhados de cima dos meus seios.
As mulheres, que nos acompanhavam eram mudas, talvez eles tivessem arrancado suas línguas.
Pacientemente ouvia-os falar, e nada de concordarem um com o outro e parecia mais discussão do que jantar de negócios.
Pensava comigo, vou matar meu marido, volto para casa, o meu maravilhoso e quentinho Brasil, acho o patrão do meu querido e mato-o também.
Onde está a praia?
Onde estão aqueles restaurantes maravilhosos?
Onde estão as belezas de Marrakech, e o deserto, com o sol dourado, as esfinges, as pirâmides, as iguarias, onde estão?
Oh! Meus sonhos, onde estão?
A realidade nua, e crua estava é me ferindo a cada instante.Decidi, eu vou pedir o divórcio, ele me enganou.
A gritaria seguia, o negócio pelo jeito não daria certo, e o dinheiro prometido foi para o espaço, adeus lua-de-mel...
Num salto, meu Guilherme me pegou pelo braço, gritou qualquer desaforo, e saímos do local quase correndo, nunca tinha visto meu amado tão alterado.
Gritei com ele:
-Ei! O que está aconteceu, que foi que eles falaram?
Guilherme, me arrastando gritou:
-Vamos, Aline, corra se quiser que eu viva.
Não entendendo nada, obedeci.
Chegamos na hospedaria, pegamos as malas as pressas, ele me obrigou a vestir o, sobretudo e saímos correndo, depois de pagar a conta, e rumo ao aeroporto. Já dentro do avião, dei-lhe um belo e estalado tapa na cara, e exigi explicações, afinal, que fuga foi aquela...
Como resposta, ele me pegou em seus braços fortes e perfumados e me beijou, como nunca o fez, mas não disse nada, só me beijou o retorno todo, a paixão se acendeu e os males da viagem foram curados.
Brasil! Brasil! Ah! Meu país, meu lar, meu ligar preferido, meu cantinho, minhas delícias, minha gente.
Fomos para casa, fizemos nossa lua-de-mel, nos saciamos, descansamos. E planejamos ir para o Rio de Janeiro, passar o restante de nossas férias, afinal precisávamos esquecer aqueles dias terríveis, que deixamos para trás.
Concordei, mas ainda não estava satisfeita com a falta de resposta.
Meu esposo me falou, que ele estaria desempregado, mas que logo resolveria esse incidente, pois sua competência era conhecida no mercado e logo estaríamos bem.
Esperneei, do que afinal ele estava falando, como estaria desempregado, gritei:
-Quero o divórcio, agora.
Calmo, como sempre, ele me alisou os braços e os cabelos, sentou-me em suas pernas e começou a explicar;
-Você vale mais que ouro, aqui no Brasil ou em qualquer lugar, seja em Marrocos, seja onde for, eu não te trocaria por nada e nem por ninguém, entendeu?
Respondi:
-Não. Explique-se.
Guilherme me falou com lágrimas nos olhos, que os Marroquinos só fariam negócios com ele se ele me desse por esposa ao filho de Abiú, um dos homens, que estava no jantar naquela noite e ele negou, é claro, e não houve negócio, como o interesse era grande, apresentou bolsas de ouro para me comprar e sugeriu sociedade e ele negou, e então ofendido Abiu o ameaçou de morte, desafiando-o, para um duelo por sua honra.
Ele defendeu-se explicando, que era meu esposo, que nossos costumes são diferentes e se desculpando me arrastou, correndo para fora do local.
Eu estava às lágrimas de emoção e o beijei longamente, agradecida por seu amor, disse:
-Deixemos essa história, para lá, vamos nos amar e continuar nossa lua-de-mel, no nosso abençoado país.
Precisamos nos refazer de tal aventura e depois pensamos, no resto..
E nos despimos, nos abraçando, beijando com a ânsia do desejo, que aumentara mais ainda, depois daquele discurso de príncipe herói e apaixonado, que me salvou das garras do dragão...




Fim

 Elisabete Lauriano
Votorantim/SP
2005

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