quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Historinhas Infantis- Sopa de pedras de Pedro Malasarte

Pedro Malasarte era um cara danado de esperto. Um dia ele estava ouvindo a conversa do pessoal na porta da venda.
Os matutos falavam de uma velha avarenta que morava num sítio pros lados do rio.
Cada um contava um caso pior que o outro:
-A velha é unha-de-fome. Não dá comida nem pros cachorros que guardam a casa dela- dizia um.

-Quando chega pro almoço, ela conta os grãos de feijão pra pôr no prato. Verdade!
Quem me contou foi o Chico Carreteiro, que não mente- afirmava outro.

-Eta velha pão-duro! comentava um terceiro. - Dali não sai nada.
Ela não dá nem bom-dia.

O Pedro Malasarte ouvindo. Ouvindo e matutando.
Daí a pouco entrou na conversa:
-Querem apostar que pra mim ela vai dar uma porção de coisas, e de boa vontade?

- Tu tá doido! disseram todos. - Aquela velha avarenta não dá nem risada!

-Pois aposto que pra mim ela vai dar - insistiu o Pedro. - Quanto vocês apostam?

A turma apostou alto, na certeza de ganhar. Mas Pedro Malasarte, muito matreiro, já tinha bolado um plano na cabeça. Juntou umas roupas, umas panelas, um fogãozinho, amarrou a trouxa e se mandou pra casa da velha.
Era meio longe, mas pra ganhar aposta o Malasarte não tinha preguiça.
O Pedro foi chegando, foi arranchando, ali bem perto da porteira do sítio da velha. Esperou um tempo pra ser notado.
Quando viu que a velha já tinha reparado nele, armou o fogãozinho, botou a panela em cima, cheia de água, e acendeu o fogo. E ficou o dia inteiro cozinhando água.
A velha, lá da casa, só espiando. E a panela fumegando.
E o Pedro atiçando o fogo.
[...]
Até que ela não conseguiu mais se segurar de curiosidade. Saiu e veio negaceando, olhar de perto.
 O Pedro pensou: "É hoje".
Catou umas pedras no chão, lavou bem e jogou dentro da panela.
E ficou atiçando o fogo pra ferver mais depressa.

A velha não se conteve:
-Oi moço, tá cozinhando pedra?

-Ora, pois sim senhora, dona! -respondeu o Pedro. - Vou fazer uma sopa.

-Sopa de pedra?- perguntou a velha com uma careta. - Essa não, seu moço! Onde já se viu?

-Pois garanto que dá uma sopa pra lá de boa.
-Demora muito pra cozinhar? - perguntou a velha ainda duvidando.
- Demora  um bocado.
-E dá pra comer?
-Claro, dona! Então eu ia perder tempo à toa?
A velha olhava as pedras, olhava pro Pedro. E ele atiçando o fogo, e a panela fervendo. A velha meio incrédula, meio acreditando.
-É gostosa, essa sopa? - perguntou ela depois de um tempo.
-É- respondeu o Malasarte- Mas fica mais gostosa se a gente puser um temperinho.
-Por isso não. - disse a velha. - Eu vou buscar.
Foi e trouxe cebola, cheiro-verde, sal com alho.
-Tomate a senhora não tem? - perguntou o Pedro.
A velha foi buscar e voltou com três, bem maduros.
Pedro botou tudo dentro da panela, junto com as pedras. E atiçou o fogo.
- Vai ficar bem gostosa - disse ele. - Mas se a gente tivesse um courinho de porco...
-Pois eu tenho lá em casa - disse a velha. E foi buscar.
Couro na panela, lenha no fogo, a velha sentada espiando. Daí a pouco ela perguntou:
-Não precisa pôr mais nada?
-Até que ficava mais suculenta se a gente pusesse umas batatas, um pouco de macarrão...

A velha já estava com vontade de tomar a sopa, e perguntou:
-Quando ficar pronta, posso provar um pouco?
-Claro, dona!

Aí ela foi e trouxe o macarrão e as batatas.

O Malasarte atiçou o fogo, pro macarrão cozinhar depressa.
Daí a pouco a velha já estava com água na boca!
-Hum, a sopa tá cheirando gostosa! Será que as pedras já amoleceram?

Em vez de responder, o Pedro perguntou:
A senhora não tem uma linguicinha no fumeiro? Ia ficar tão bom...
Lá foi a velha de novo buscar a linguiça.

Cozinha que cozinha, a sopa ficou pronta. Malasarte então pediu dois pratos e talheres, a velha trouxe.
O Pedro encheu os pratos, deu um pra ela.
Separou as pedras e jogou no mato.
-Ué, moço, não vai comer as pedras?
-Tá doido! - respondeu o Malasarte. -
Eu lá tenho dente de ferro pra comer pedra?
E tratou de se mandar o mais depressa que pôde.
Foi correndo pra venda, cobrar o dinheiro da aposta.

Em Contos populares para crianças da América Latina.
Tradução e adaptação de Neide T. Maia Gozáles. São Paulo: Ática, 1984 .p. 8-15.

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