segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Gêneros Literários do Poema

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Gêneros Literários do Poema

     Os estudos dos Gêneros Literários aparecem pela primeira vez na obra “A República”, de Platão como um tipo de classificação da obra literária tendo em vista principalmente o seu conteúdo, sua temática. O discípulo mais famoso de Platão, Aristóteles, retoma o estudo dos gêneros e suas modalidades em sua obra-prima “A Poética”, sob o ponto de vista dos tópicos mais importantes da obra: a MÍMESE e a VEROSSIMILHANÇA. Devemos lembrar que, para os Antigos, Poesia é texto em versos, com rima, métrica e ritmo definidos, ou seja, é o Poema belo e perfeito; em suma: é o poema que obedece às normas da Versificação.
  
     Para Aristóteles, a POESIA  é Mímese, ou seja, é uma das várias formas de IMITAÇÃO  (= DE REPRESENTAÇÃO) da realidade  criadas pelo homem. Já no início da sua obra, Aristóteles discrimina como imitações poéticas:

1) as imitações dramáticas: tragédia e comédia;

2) a epopéia:  imitação narrativa;

3) o ditirambo (poemas em homenagem a Baco), a citarística (poemas acompanhados por instrumentos de corda) e a aulética (poemas acompanhados pela flauta), exemplos de imitações poéticas que hoje correspondem ao gênero lírico.

      Assim, a obra de Aristóteles já apresenta os três tipos de Gênero a que um poema  (texto em versos) pode pertencer: o Lírico, e Épico e o Dramático.

1. Gênero Lírico
     Pertence ao Gênero Lírico o poema que consiste numa forma de expressão dos sentimentos, das emoções, dos desejos, dos conhecimentos, enfim, da visão de mundo de alguém: do EU que fala no poema.  Emissor e personagem única desse tipo de mensagem, o “EU-LÍRICO”  é o tema nela tratado (mensagem centrada no emissor): normalmente, portanto, o poema lírico é elaborado com uma linguagem emotiva -  SUBJETIVA -  em que predominam   as palavras e pontuações de 1a. pessoa. Os tipos de poemas líricos mais comuns são:

    1.1 Ode ou Hino: é o poema lírico em que o emissor faz uma homenagem à Pátria (e aos seus símbolos), às divindades, à mulher amada, ou a alguém ou algo importante para ele. O Hino é uma Ode com acompanhamento musical;

   1.2 Elegia: é o poema lírico em que o emissor expressa tristeza, saudade, ciúme, decepção, desejo de morte. É todo poema melancólico;

    1.3 Idílio ou Écloga: é o poema lírico em que o emissor expressa uma homenagem à Natureza, às belezas e às riquezas que ela dá ao homem. É o poema bucólico, ou seja, que expressa o desejo de  desfrutar de tais belezas e riquezas ao lado da amada (=pastora), que enriquece ainda mais a paisagem, espaço ideal para a paixão. A écloga é um idílio com diálogos (muito rara);

    1.4 Epitalâmio: é o poema lírico feito em homenagem às núpcias de alguém;

    1.5 Sátira: é o poema lírico em que o emissor faz uma crítica a alguém ou a algo, em tom sério ou irônico (“elogio às avessas”).

     Alguns autores consideram modalidades líricas:

- o ACALANTO: ou canção de ninar;

- o ACRÓSTICO: (akros = extremidade; stikos = linha), composição lírica na qual as letras iniciais de cada verso formam uma palavra ou frase;

- a BALADA: uma das mais primitivas manifestações poéticas, são cantigas de amigo (elegias) com ritmo característico e refrão vocal que se destinam à dança;

- a BARCAROLA: é o canto dos gondoleiros italianos; consiste num lamento com o mar, acusando sempre referência a caminhos por água (= cantigas de amigo = elegia);

- a CANÇÃO: poema oral com acompanhamento musical (= CANTIGA);

- a CANTATA: pequena ópera, gira sempre em torno de uma ação solene ou galante (sensual);

- o CANTO REAL: tipo de balada de forma fixa, composta por 5 estrofes com 11 versos e uma estrofe com cinco versos. Comum no Parnasianismo;

- o DITIRAMBO: canto em louvor a  Baco que deu origem à tragédia;

- o GAZAL ou GAZEL: poesia amorosa dos persas e árabes; odes do Oriente Médio;

- a GLOZA: ver VILANCETE;

- o HAICAI: expressão japonesa que significa “versos cômicos” (=sátira). É o poema japonês formado de três versos que somam 17 sílabas assim distribuídas: 1o. verso=5 sílabas; 2O. verso = 7 sílabas; 3O. verso 5 sílabas;

- a LIRA= idílio;

- o MADRIGAL: idílio amoroso que consiste num galanteio que o eu-lírico faz a uma pastora(sua amante);

- o NOTURNO:  elegia, poema melancólico em que o símbolo da tristeza é a noite;

- a PARLENDA: composição ritmada destinada a certos jogos infantis (cadê o gato? Foi atrás do rato/ Cadê o rato ? Foi atrás da aranha...)

- o RONDÓ: é o poema lírico que tem o mesmo estribilho se repetindo por todo o texto;

- a TROVA: é o mesmo que cantiga ou canção;

- o VILANCETE: são as cantigas de autoria dos poetas vilões (cantigas de escárnio e de maldizer); satíricas, portanto.

      Como se pode observar, essas outras modalidades líricas nada mais são do que variações dos cinco tipos principais.

2. Gênero Épico ou Narrativo
      Pertence ao gênero épico, o poema que conta uma história, um episódio: por isso, ele é também  chamado de NARRATIVO. Há três tipos de poemas narrativos:

2.1 Epopéia: é o poema épico que narra um grande feito histórico de um povo, de um país, destacando os seus heróis. Além dos textos históricos, encaixam-se nessa classificação os textos bíblicos. A epopéia clássica, das quais são exemplos a “Ilíada” e a “Odisséia”, ambas de Homero; “Os Lusíadas”, de Camões; “A Divina Comédia”, de Dante, etc,  tem as seguintes partes:

1a. Proposição: apresentação do tema e do herói;

2a. Invocação”: evocação das musas inspiradoras para que o episódio proposto seja contado com

engenho e arte;

3a. Dedicatória: a epopéia é dedicada a alguém importante;

4a. Narração: o tema proposto é contado;

5a. Epílogo: é a conclusão da narrativa e as considerações finais.

     A epopéia moderna não tem uma divisão pré-estipulada.

     São exemplos de epopéias brasileiras: “ Caramuru” , de Santa Rita Durão; “ Uraguai” , de Basílio da Gama; “ Vila Rica” , de Cláudio Manuel da Costa , dentre outras.

   2.2 Romance ou Xácara: é o poema narrativo que conta as façanhas de um herói, mas principalmente uma história de amor vivida por ele e uma mulher “proibida”. Apesar dos obstáculos que o separa, o casal vive sua paixão proibida, física, adúltera, pecaminosa e, por isso  é punido no final. É o tipo de narrativa mais comum na Idade Média. Exemplo: “Tristão e Isolda”.

  2.3 Fábula: é o poema narrativo em que as personagens são seres não humanos personificados. Com o objetivo de criticar os homens, esse poema sempre encerra uma lição de moral.

    Há, ainda:

- o Lai: poema narrativo curto formado por 12 estrofes com versos octossílabos, referentes às lendas medievais, mais precisamente àquelas do ciclo arturiano;

- a Canção de Gesta: narrativa acompanhada de música, conta a vida de um herói ou de um santo; elas deram origem às novelas de cavalaria medievais;

- o Poema Herói-Cômico: poema narrativo em estilo solene que encerra um assunto banal e ridículo. Ex: “A Estante do Coro”, onde os 6 cantos do poema giram em torno da dúvida de dois homens a respeito de onde deveria ser colocada uma estante de um coro;

- o Poema Burlesco: é um poema narrativo que, ao contrário do poema herói-cômico, trata de um assunto sério usando um estilo jocoso. Ex: “Orlando Furioso”

3. Gênero Dramático
      Pertence ao gênero dramático toda e qualquer peça teatral em versos. O texto dramático é o único elaborado com o fito de ser representado num palco e, por isso, é o único que contém INSTRUÇÕES PARA O MOMENTO DA REPRESENTAÇÃO. Quem melhor caracteriza esse gênero é Aristóteles, que em sua “Poética” estuda a tragédia em dezessete capítulos (cap. VI ao XXII)  como sendo o protótipo do drama e a arte mimética por excelência.

      Na Antigüidade, dois eram os tipos de poemas dramáticos existentes: a tragédia e a comédia, artes miméticas, pois a primeira é a imitação ( a representação) de homens melhores e a segunda, de homens piores do que os que existem na realidade (objetos da imitação). No modo dramático de imitação, as próprias pessoas imitadas (personagens) são autoras da representação e desconhecem seu destino; é por isso que o conjunto das ações feitas por essas personagens no decorrer da peça teatral recebe o nome de DRAMA. Para Aristóteles, o fato da tragédia  imitar homens superiores (melhores do que os que existem na realidade) e provocar no espectador  reações de dor e violência (para que o espectador também fique “mais nobre”, “melhor”)  que o levam a ter medo  e piedade  ( a docilidade, a passividade, a conformidade) necessários à vida disciplinada em sociedade, é que faz da tragédia a mais perfeita espécie poética de imitação. A comédia, ao contrário, é tida como a pior das espécies já que provoca no espectador o riso, e, com ele, o destemor, a aventura, a rebeldia: afinal,  nelas são representados seres humanos piores do que aqueles que existem na realidade. A comédia surgiu na Sicília (Itália) com as obras de Epicarmo e Fórmis.

     Embora tenha surgido na Grécia através da obra de Ésquilo, Aristóteles atribui o mérito de ser precursor da tragédia ao poeta Homero, autor das epopéias “Ilíada” e “Odisséia”, já que em sua obra narrativa a personagem protagonista é sempre um herói, ou seja, é sempre um homem  superior, quando o normal na epopéia seria imitar homens comuns, homens iguais aos que existem na realidade. Homero também é elogiado por Aristóteles como um POETA MAIOR, pela forma perfeita e pela linguagem esmerada (ornada, musical) que imprimiu às suas epopéias (8.816 versos decassílabos), fontes de inspiração às epopéias de Virgílio, Camões, etc. Aristóteles salienta, ainda, que tragédia e epopéia se diferenciam pelo modo (na tragédia as personagens agem por si, não há ninguém narrando, o espectador entende a estória a partir do drama; na epopéia alguém conta a história, sabe tudo o que vai acontecer com as personagens: o narrador; em suma: modo dramático e modo narrativo), pela extensão (epopéia=poema longo/tragédia=poema curto) e pelo objeto (tragédia=homens melhores/epopéia=homens iguais aos que existem na realidade) da imitação. Atualmente, comédia e tragédia são modalidades dramáticas elaboradas em prosa.

      Surgida na Idade Média e criada por Gil Vicente, outra modalidade dramática em versos heptassílabos (ou redondilhas maiores)  é o AUTO, cujo conteúdo consiste numa crítica aos poderosos, principalmente aos clérigos(do padre ao Papa). A versão cômica do Auto é a FARSA. Essa modalidade ainda existe; em nossa Literatura atual, temos “Morte e Vida Severina” ou “Auto de Natal Pernambucano” , de João Cabral de Melo Neto, e as peças de Ariano Suassuna, dentre elas o “Auto da Compadecida”.

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