domingo, 23 de outubro de 2011

Reflexão Pérolas Invisíveis



Todas as manhã no corre - corre dos afazeres, mamãe ocupada com o café, com a maleta de trabalho dela, e a do papai, com a ordem da casa, passar ordens a empregada, e tudo mais...

Sempre preocupados com a tarefas do dia, conversam alterados, rostos tristes, às vezes ríspidos um com o outro.

Mal engole um pedaço de pão ou bolacha, e reclamam um do outro, gesticulam, apontam, gritam, corre para lá, corre para cá.

Eu tento falar que não estou bem, quero falar do recadinho marcado em vermelho no meu caderno de tarefas, mas não consigo falar, eles não me ouvem, não me enxergam.

Olham para o relógio nervosos, me enfiam no carro, apertam o cinto de segurança, tento novamente chamar a atenção tocando de leve o rosto de mamãe, que continua a discutir com papai. Mamãe joga minha mochila sobre mim, junto com a blusa, e me chama a atenção pelo cadarço desamarrado. Encosto no banco do carro e desisto, me calo, quem sabe no retorno eu consiga falar, que estou me sentindo mal, se me ouvirem depois de um dia interiro de trabalho,  muita canseira física e psicológica.

Papai sai apressado, derrapando o pneu, ele é muito hábil no volante, é meu herói, e lá vai mamãe no seu carro vermelho, cortando nossa frente, toda linda, mas sempre, sempre apressada, preocupada.

Que coisa! Os adultos só vivem correndo...não brincam, não se divertem de verdade, até parece que eles não tem ouvidos, nem olhos...

Olho para o espelho retrovissor e vejo minha imagem, percorro os olhos em mim dos pés, até o meu o cabelo, me toco, me apalpo, me aperto, me belisco.
Será que estou aqui?
Será que existo para meus pais?
Tento conversar com papai, mas ele está ouvindo notícias e atendendo o celular ao mesmo tempo.
Ele não me ouve...
Estou tão cansado, quente, tão fraco, mal consigo respirar, faz dias que estou assim...É tão estranho...tento falar que não estou bem, mas não me ouvem.
Na escola, sento no fundo da classe, a professora nem vai até minha carteira...não olha meus trabalhos...nem o caderno...só antes do dia da reuniões dos pais, ou para mandar recados para eles.
Sabe! Eu sei que existo porque meus coleguinhas me dizem que me enxergam, e até brincam comigo, e até lanchamos juntos.
Eu acho que sou invisível para os adultos, gente grande é mesmo esquisita, só enxergam o que querem, só ouvem quando querem.
Não quero crescer, não...
Não quero ficar meio surdo, meio cego, ter meia vida...
Sabe ainda estou me sentindo mal...
Ai, Meu Deus! O Senhor pode mandar um anjo, me curar, eu acho que estou doente, eu sei que o Senhor vê tudo, ouve tudo e tudo pode...
Se o Senhor estiver me vendo e me ouvindo, o Senhor por favor manda um anjo vir me buscar?

Elisabete Lauriano
Votorantim / SP
2011

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